E o abismo, tal como o mundo subterrâneo, está cheio de poderes maléficos e nocivos ao homem.
Porque o abismo, como o mundo subterrâneo, representa os poderes já caducos da criação.
A velha natureza humana tem de ceder e dar lugar a uma nova natureza. E cedendo cai no Hades a pique, imperecível e maléfica lá sobrevive caduca, embora potência malfazeja no mundo subterrâneo.
Esta profundíssima verdade faz parte integrante de todas as antigas religiões e está ligada à raiz do culto dos poderes do mundo subterrâneo. O culto dos chthonioi, poderes do mundo subterrâneo, talvez tenha sido o verdadeiro fundamento da mais antiga religião grega. Quando o homem não possui energia suficiente para subjugar as suas forças subterrâneas - que são, realmente, forças do seu antigo e já caduco eu - nem inteligência para as aplacar com sacrifícios e esbraseados holocaustos, regressam a ele e destroem-no. Por tal motivo, todas as novas conquistas da vida têm o significado de uma «tortura do Inferno».
Do mesmo modo, depois de cada grande alteração cósmica o poder já caduco do velho cosmo torna-se demoníaco e pernicioso à nova criação. Isto é uma grande verdade que está subjacente à série dos mitos Héstia-Urano-Cronos-Zeus.
Todos os cosmos têm, portanto, o seu ar maléfico.