Apocalipse - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 51 / 180

E acontece que isto nos desconcerta. Se João de Patmos realmente terminou este Apocalipse no ano 96 d. c., surpreende que conhecesse tão pouco a lenda de Jesus, e nele nada existisse do espírito dos Evangelhos, todos anteriores ao seu livro. Fosse ele quem fosse, este velho João de Patmos era um estranho indivíduo. Em todo o caso conseguiu pôr em evidência, por vindouros séculos, as emoções de um certo tipo de homens.

Ficamos com a impressão de que o Apocalipse não é só um livro mas vários, talvez muitos. Não se trata, porém, de uma obra como a de Enoch, feita com fragmentos de vários livros ligados uns aos outros. E um só livro com vários estratos, como se estratos de civilização fossem surgindo à medida que escavamos mais e mais profundamente uma cidade antiga. Lá bem no fundo existe um substracto pagão, provavelmente um dos antigos livros da civilização do Egeu, uma espécie de livro de um Mistério pagão. Retranscrito por apocaliptas judeus, depois foi ampliado e por fim transcrito uma vez mais por João, um apocalipta judaico-cristão; e depois, a partir desse dia, expurgado, corrigido, castrado e ampliado por editores cristãos que quiseram fazer dele obra cristã.

Que estranho judeu deve ter sido, porém, João de Patmos!





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