Avaliada superficialmente, a Revelação talvez seja o mais detestável livro da Bíblia. Tenho a certeza de que o ouvi e li dez vezes até aos meus dez anos de idade, sem o compreender nem lhe prestar verdadeira atenção. E mesmo sem saber nem pensar nada a seu respeito, tenho a certeza de que me despertou sempre uma verdadeira aversão. E provável que, sem reparar, desde muito tenra idade eu tenha detestado a sua lenga-lenga solene e prodigiosa, a ruidosa forma como todos o lêem, quer sejam pregadores, professores ou comuns cidadãos. Detesto até ao fundo das entranhas a voz de «pregador». E, lembra-me agora, essa voz ainda era mais detestável quando declamava um trecho da Revelação. Não posso deixar de estremecer quando relembro frases que ainda me obcecam porque as oiço com o tom afectado e declamatório dos pastores dissidentes-: «Depois, vi o céu aberto, e eis que apareceu um cavalo branco, e o que estava montado em cima dele se chamava... 3»