- Ele está cá?
- Está agora a passar pelo sono. E mais tinha um recado com pressa. Foi preciso eu usar de malícia para o fazer descansar. É que esta gente não atende a nada.
- Pois, Joana, eu vinha para agradecer-lhe a visita que ele me fez, mas deixe-o dormir.
- Ele há-de gostar de o ver; que olhe que é muito seu amigo, Danielzinho. Ele tem aqueles modos assim secos, mas... Ainda ontem aqui esteve a dizer que o menino há-de vir a ser coisa grande.
- Não, agora já não cresço mais.
- Ora! bem sabe o que eu quero dizer. Está a rir.
- Eu lhe digo, Joana. Eu que vim meter-me nesta terra, é porque tenho ambições. Lá isso tenho. A si, digo-lhe baixinho, o meu grande desejo é vir a ser...
- O quê? - perguntou Joana, com curiosidade feminina.
- Nada menos que regedor cá na aldeia.
- Ora... fala a sério?
- Pois isso é coisa lá com que se brinque?
- Então para que quer ser regedor?
- E não é uma posição tão bonita?
- Não digo que não. Pois olhe, com o tempo isso não será difícil.
O Sr. João Semana já esteve para o ser; ele é que não quis. Mas o que é, é que o menino está aqui está casado.
- Porque diz isso?
- Ora ! o pai há-de arranjar-lhe noiva rica.
- E então há por cá muito desse género?
- Se há? Boa! Olhe; - aí tem a filha do morgado da Cova do Frade, que é uma moça bonita.
- Ai, muito bonita! Parece mesmo uma dália vermelha.
- Que está a dizer? É uma rapariga escarolada e sadia.
- Lá escarolada será; e então tem muito dinheiro?
- Para cima de vinte mil cruzados.