Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 21: XXI

Página 142

O exemplo beliscou o amor próprio do Sr. João da Esquina, que redarguiu com despeito:

- Muito obrigado pela notícia. Isso talvez anime a gente da Áustria ou certos doutores que eu conheço, e que pensam que um homem é como qualquer animalejo dos tais, e que pode andar a quatro como eles também. Eu por mim...

- Mas aí tem outro exemplo - continuou Daniel. - Em certas partes da Alemanha há povoações inteiras, nas quais o arsénico é comido com um prazer excessivo.

- Pois que se regalem.

- Mas olhe que é facto. São verdadeiros toxicófagos esses povos.

- Eu logo vi que haviam de ser assim uma coisa; homens é que...

- E então as pessoas novas e, ainda mais, as raparigas são as que usam dele com avidez, e o que é certo é que conservam assim um ar de mocidade, uma frescura, uma nutrição e uma força que, segundo a frase dos autores, parece que lhes permite voar.

- Para o outro mundo?

- Não, senhor. É verdade isto que eu lhe digo.

- Eu já sei, eu já sei que, para o senhor, pão e arsénico deve ser tudo a mesma coisa. Mas eu por mim...

- Porém sossegue, eu não quero obrigar o meu amigo a jantar arsénico, aplico-lho apenas como medicamento e com as devidas precauções...

- Escusa de se dar a esse trabalho. Disso o dispenso eu. É coisa que me não há-de entrar na boca. Arsénico! Que tal está!

- Mas esse receio é indigno de um homem de coragem; permita- me que lhe diga.

Neste tempo tinha entrado na loja, onde se passara o diálogo, a cara metade do Sr. João da Esquina, a Sr.ª Teresa de Jesus, gorda e rubicunda matrona, que saudou Daniel com sorrisos amáveis, e disse para o marido, com a voz mais melodiosa deste mundo:

- Toma arsénico, menino, toma. E porque não hás-de tomar arsénico?

O Sr. João da Esquina fitou na mulher um olhar sombrio.

<< Página Anterior

pág. 142 (Capítulo 21)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 142

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316