- Eu?
- Tu, sim, porque não? Para que gastou teu pai contigo a mandar- te aprender os verbos, senão para poderes agora mostrar o que és, e diferençar-te das outras?
A menina desta vez nem um monossílabo pronunciou. Encolheu os ombros só.
- Bem se viu que o Sr. Daniel logo conheceu com quem lidava.
Cuidas tu que ele se gastava assim com qualquer Maria do Monte?
Diz-lhe que sim. Ele bem sabe que seria deitar pérolas a porcos.
Por isso, menina, não deixes perder a ocasião. Acredita que darás muito gosto a teus pais, se...
A Sr.ª Teresa vacilou ao principiar a condicional, em que ela queria conservar a conveniente dignidade materna.
- Se?... - perguntou a filha, e foi este de todos os monossílabos, que até ali tinha soltado, o mais embaraçoso para a mãe.
- Se... sim... quero eu dizer que eu e teu pai não levaríamos a mal se... um dia, o Sr. Daniel nos viesse pedir a tua mão.
O ar de satisfação, que se desenhou no rosto da esposa do Sr. João da Esquina, mostrou que ela estava contente consigo pela construção final da frase.
A menina, ao ouvi-la, baixou os olhos e devia ver-se corar, se tal fenómeno fosse de possível observação nas faces dela. Enquanto a palavras, limitou-se a balbuciar um «ora!» eloquente de graciosa confusão.
A Sr.ª Teresa passou à loja onde estava o marido.
- Ó João, olha que nós temos que conversar - disse-lhe ela, sentando-se ao pé do mostrador.
- Vens falar-me do arsénico outra vez? - perguntou o marido inquieto.
- Não; ainda que, para dizer a verdade, não sei porque o não hás-de tomar.
- E a dar-lhe!
- Mas ouve. Esta visita do Daniel do Dornas não te deu que pensar?
- Deu-me que pensar, deu. E vou já mandar dizer-lhe que escusa de cá voltar, porque.