As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 22: XXII Pág. 148 / 332

- Eu?

- Tu, sim, porque não? Para que gastou teu pai contigo a mandar- te aprender os verbos, senão para poderes agora mostrar o que és, e diferençar-te das outras?

A menina desta vez nem um monossílabo pronunciou. Encolheu os ombros só.

- Bem se viu que o Sr. Daniel logo conheceu com quem lidava.

Cuidas tu que ele se gastava assim com qualquer Maria do Monte?

Diz-lhe que sim. Ele bem sabe que seria deitar pérolas a porcos.

Por isso, menina, não deixes perder a ocasião. Acredita que darás muito gosto a teus pais, se...

A Sr.ª Teresa vacilou ao principiar a condicional, em que ela queria conservar a conveniente dignidade materna.

- Se?... - perguntou a filha, e foi este de todos os monossílabos, que até ali tinha soltado, o mais embaraçoso para a mãe.

- Se... sim... quero eu dizer que eu e teu pai não levaríamos a mal se... um dia, o Sr. Daniel nos viesse pedir a tua mão.

O ar de satisfação, que se desenhou no rosto da esposa do Sr. João da Esquina, mostrou que ela estava contente consigo pela construção final da frase.

A menina, ao ouvi-la, baixou os olhos e devia ver-se corar, se tal fenómeno fosse de possível observação nas faces dela. Enquanto a palavras, limitou-se a balbuciar um «ora!» eloquente de graciosa confusão.

A Sr.ª Teresa passou à loja onde estava o marido.

- Ó João, olha que nós temos que conversar - disse-lhe ela, sentando-se ao pé do mostrador.

- Vens falar-me do arsénico outra vez? - perguntou o marido inquieto.

- Não; ainda que, para dizer a verdade, não sei porque o não hás-de tomar.

- E a dar-lhe!

- Mas ouve. Esta visita do Daniel do Dornas não te deu que pensar?

- Deu-me que pensar, deu. E vou já mandar dizer-lhe que escusa de cá voltar, porque.





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