- O pior há-de ser o pai: mas segura-me tu o rapaz, que eu depois tomarei a meu cargo a empresa - dizia ele.
Conspirados assim os dois, sentiam-se radiosos de esperanças no futuro.
João da Esquina estava de tão condescendente disposição de espírito, que a sua cara-metade aventurou um pedido:
- Agora, para seres bonito, João, devias tomar arsénico.
O tendeiro deu um murro no mostrador.
- Não te calarás com isso, Teresa?!
Aí ficam expostas as razões dos sorrisos, com que o próprio João da Esquina recebeu Daniel, à segunda visita.
A mãe conduziu-o aos aposentos da menina, e teve o discreto cuidado de se distrair à janela, enquanto Daniel interrogava a doente.
O sistema de tratamento encetado continuou, e com igual êxito.
Daniel desta vez, ao retirar-se, levava já a autorização para continuar por escrito as consolações, principiadas vocalmente.
A Sr.ª Teresa não deixou sair Daniel sem que ele visse todas as obras de crochet das industriosas mãos da menina e os modelos caligráficos, que escrevera na mestra. De passagem, disse-lhe também que ela havia aprendido os verbos, coisa que pouca gente sabia na terra.
A Sr.ª Teresa possuía fé, quase supersticiosa, nesta ciência dos verbos.
João da Esquina quis obrigar Daniel a beber um cálice de vinho, do que ele muito a custo conseguiu dispensar-se.
Da rua, Daniel voltou-se para cima e, vendo à janela a descendente dos Esquinas, cortejou-a com um sorriso cheio de amabilidade.
Um cotovelão da Sr.ª Teresa fez notar ao marido esta circunstância.
O homem conseguiu arranjar um gesto de finura, e recomendou gravidade.
Naquela tarde Daniel, escrevendo a um seu antigo condiscípulo, dizia, entre outras coisas, o seguinte:
«Participo-te que se está desenvolvendo em mim o gosto pelo género campestre.