Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 23: XXIII

Página 154

- Olhe que me tem esquecido emprestar-lhe o livro do rapaz - continuou José das Dornas, que não notara a tal maneira - aquele em que falei; mas espere, que eu vou...

Ia a levantar-se, porém um gesto do seu interlocutor fê-lo parar.

- Não tenha incómodo. É de outra obra de seu filho, que eu lhe quero agora falar.

- Doutra?

E José das Dornas principiou a dar mais atenção aos modos esquisitos do tendeiro.

- Homem, você hoje não sei que tem consigo! Não o entendo.

Em vez de responder, João da Esquina pôs-se a mexer nos bolsos e tirou de lá um papel cor-de-rosa, pequeno, elegante, lustroso e aromatizado; desdobrou-o e, pondo-o diante dos olhos do lavrador, disse-lhe simplesmente:

- Ora, faça favor de ler isto.

- Mas isto o que é?

- Leia e verá.

Era fácil dizer «leia»; mas não de pequena dificuldade para José das Dornas a tarefa, que com essas palavras lhe impunham.

- Homem, é melhor que você me diga o que é isto, do que...

- Nada, não, senhor. Leia.

- Valha-o Deus! - disse o bom do lavrador, afastando o papel dos olhos quatro palmos, para o poder ler; não o conseguindo, tirou do bolso umas cangalhas, das quais armou o nariz, depois de ter lançado para o interlocutor um olhar, que valia um recurso, para tribunal de última instância, contra uma sentença de morte.

- «Trigueira» - leu ele, logo no topo da página e voltou para o tendeiro olhos de espanto.

- Trigueira! Que quer dizer isto?

- Homem, leia, leia, que o saberá.

José das Dornas continuou, já se imagina como. Eu evitarei ao leitor o assistir às verberações, que ele aplicou à prosódia portuguesa.

Eis o que leu:


Trigueira! que tem? Mais feia
Com essa cor te imaginas?
Feia! tu, que assim fascinas
Com um só olhar dos teus!
Que ciúmes tens da alvura
Desses semblantes de neve!
Ai, pobre cabeça leve!
Que te não castigue Deus.

<< Página Anterior

pág. 154 (Capítulo 23)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 154

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316