Um resultado tão curioso animou-o a prosseguir em observações análogas.
Preparava-se agora a contar as cabeças dos pregos, que via pelo tecto, porém, uma mosca importuna, teimando em pousar-lhe na testa, veio perturbá-lo neste ponderoso exame, e obrigou-o a desistir.
Por acaso, fitou então os olhos em uma espécie de mancha 156 escura, que estava na parede fronteira. Ao princípio, olhou-a distraído, mas, pouco a pouco, a atenção empenhara-se naquilo, como se em objecto de grande monta.
A distância não lhe permitia distinguir o que fosse.
- É uma nódoa de humidade decerto - disse Daniel consigo - ou não... é um insecto talvez... Mas não se move?... Seja o que for...
E desviou os olhos.
Daí a pouco estava outra vez a olhar para lá.
- É um insecto, é... mas tão imóvel!...
Não pôde deixar de soprar-lhe, ainda que sem probabilidade alguma de o atingir, pela distância a que lhe ficava.
A mancha negra não se moveu.
- Não é insecto - pensou Daniel.
E outra vez retirou a vista daquele ponto, para, passados instantes, a levar de novo lá.
- Mas a forma é de insecto...
E ergueu meio corpo e estendeu a cabeça para o sítio. Não pôde distinguir ainda o que fosse aquilo.
Tornou a deitar-se, simulando a resolução de se não importar mais com o problema.
Mas a curiosidade irritada subiu a ponto de o constranger a levantar-se. Aproximou-se então da mancha da parede, e viu que era uma mariposa escura, num daqueles estados de imobilidade, em que por tanto tempo se conservam às vezes. Daniel não resistiu à tentação de lhe tocar ao de leve nas asas; a mariposa fugiu.
Perseguindo-a, chegou até à janela.
Neste momento passava no pátio um dos mais velhos criados da quinta; Daniel chamou-o e mandou-o subir.