As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 25: XXV Pág. 174 / 332

- Onde quer ele chegar?

De repente o reitor, como se lhe acudira uma ideia imprevista, disse, fitando os olhos em Daniel e em tom que procurou fazer natural:

- É verdade, ó Daniel, então você tem casamento contratado e não dá parte à gente?

- Eu?!... Casamento!... - exclamou Daniel, deveras admirado, e sentando-se no leito.

- Casamento, sim. Ainda agora mo asseguraram.

- E quem é a noiva que me destinam?

- Uma vizinha sua. É aqui a filha do João da Esquina.

- Ah! isso sim - disse Daniel, sorrindo e deitando-se outra vez.

- Isso sim? Não leve o caso a rir, que o negócio é muito sério.

Porventura não haverá fundamentos para a notícia que me deram?

- Eu tenho ido a casa dela, é verdade.

- Ah!

- Mas... como médico...

- Não está má medicina, a sua! Então que tratamento lhe aconselhou?

- Confortativo - respondeu Daniel, gracejando.

- Ah! e o boticário entenderia as receitas que escreveu?

- Nem todos os conselhos médicos precisam do auxílio do boticário.

Os banhos de mar, os passeios, os leites de jumenta e as diferentes prescrições do tratamento moral, por exemplo.

- Estou vendo que foi um tratamento moral o que fez.

- Exactamente.

- Olhem que cegueira a do João da Esquina, e a de seu pai e a minha até, que não vimos que era uma carta de guia para bom caminho, uns mandamentos para a salvação do corpo e não sei se da alma também, o que ainda há pouco lemos!

- O quê? Pois leram?... - perguntou Daniel com vivacidade e erguendo-se outra vez.

- Lemos, sim. Mas não entendemos. Veja lá: a mim pareceu- -me aquilo uma coisa desaforada; e ao João da Esquina, então?

Esse não descansou enquanto não teve de nós a promessa solene, de que o obrigaríamos, a si, a uma reparação.





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