Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 29: XXIX

Página 205

A festa mudou súbita e completamente de carácter.

À exclamação do lavrador respondeu grande alarido na assembleia.

De todos os lados se pedia o cumprimento da lei das esfolhadas.

Cabia pois a José das Dornas fazer a primeira distribuição de abraços.

O alegre lavrador não se fez rogar.

Seguiu-se então um espectáculo eminentemente cómico. José das Dornas ergueu-se do lugar onde estava, para correr, um por um, todos os outros, com profusão de abraços, dar o exemplo de observância à lei reguladora da festa.

Todo este cerimonial foi acompanhado das gargalhadas dos espectadores e entremeado de observações jocosas do oficiante, o qual fazia valer sobremaneira o acto, graças ao génio folgazão que Deus lhe dera.

A cada rapariga que abraçava, José das Dornas, prolongando mais o abraço, dizia com visagens e gestos, que faziam estalar de riso os circunstantes:

- Na minha idade, aos sessenta anos, só o milho-rei me podia dar destas fortunas! Ainda bem que a sorte mo trouxe às mãos.

Ao abraçar os homens, exclamava ele, com certo ar de desconsolação, comicamente expressivo:

- Que belo abraço desperdicei agora!

Passando pelos filhos, abraçou-os, dizendo-lhes:

- Rapazes, tenham paciência. Eu sei que não são destes abraços que vós quereis. Mas é lei, é lei. Os outros virão a seu tempo.

A um criado, disse, meneando a cabeça:

- Ah! maroto! Ser obrigado a abraçar-te, quando tanta vontade tinha de te apalpar de outra maneira as costas! Ora vá, que talvez te não gabes doutra.

O certo é que, depois disto, começou a animar-se a esfolhada.

As espigas vermelhas, como se atraídas pelo bom acolhimento feito à primeira, apareceram sucessivamente em diferentes mãos, e cada uma, que aparecia, dava lugar a episódios graciosos e a prolongada hilaridade.

<< Página Anterior

pág. 205 (Capítulo 29)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 205

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316