A festa mudou súbita e completamente de carácter.
À exclamação do lavrador respondeu grande alarido na assembleia.
De todos os lados se pedia o cumprimento da lei das esfolhadas.
Cabia pois a José das Dornas fazer a primeira distribuição de abraços.
O alegre lavrador não se fez rogar.
Seguiu-se então um espectáculo eminentemente cómico. José das Dornas ergueu-se do lugar onde estava, para correr, um por um, todos os outros, com profusão de abraços, dar o exemplo de observância à lei reguladora da festa.
Todo este cerimonial foi acompanhado das gargalhadas dos espectadores e entremeado de observações jocosas do oficiante, o qual fazia valer sobremaneira o acto, graças ao génio folgazão que Deus lhe dera.
A cada rapariga que abraçava, José das Dornas, prolongando mais o abraço, dizia com visagens e gestos, que faziam estalar de riso os circunstantes:
- Na minha idade, aos sessenta anos, só o milho-rei me podia dar destas fortunas! Ainda bem que a sorte mo trouxe às mãos.
Ao abraçar os homens, exclamava ele, com certo ar de desconsolação, comicamente expressivo:
- Que belo abraço desperdicei agora!
Passando pelos filhos, abraçou-os, dizendo-lhes:
- Rapazes, tenham paciência. Eu sei que não são destes abraços que vós quereis. Mas é lei, é lei. Os outros virão a seu tempo.
A um criado, disse, meneando a cabeça:
- Ah! maroto! Ser obrigado a abraçar-te, quando tanta vontade tinha de te apalpar de outra maneira as costas! Ora vá, que talvez te não gabes doutra.
O certo é que, depois disto, começou a animar-se a esfolhada.
As espigas vermelhas, como se atraídas pelo bom acolhimento feito à primeira, apareceram sucessivamente em diferentes mãos, e cada uma, que aparecia, dava lugar a episódios graciosos e a prolongada hilaridade.