As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 29: XXIX Pág. 208 / 332

Daniel percebeu-lhe a agitação e sorriu.

Clara, sentando-se outra vez junto dele, sentia-se constrangida e não ousava erguer os olhos.

Daniel achava deliciosa aquela súbita timidez e começou logo a formar castelos no ar, quase esquecido de que era a prometida esposa de seu irmão a mulher, de quem nunca mais desviou os olhos, nem distraiu as atenções.

Apareceu afinal, a ele também, uma espiga de milho vermelho.

Daniel mostrou-a, sorrindo, a Clara.

- Visitou-me enfim a ventura - disse-lhe ele. - Graças a Deus! porém mais feliz seria se me fosse permitido cumprir da sentença só aquela parte, que me não obriga a levantar.

Clara quis responder-lhe, mas nada lhe ocorreu, que dissesse.

Nisto uma criança, que estava próximo deles, denunciou à assembleia que o Sr. Daniel tinha achado um milho-rei.

Agora já todos foram unânimes a exigir, em grandes brados, que pagasse ele também o tributo estabelecido.

Daniel não procurou eximir-se; abraçou porém a todos à pressa e distraidamente, até chegar a Clara. A essa, apertou-a ao peito de maneira a redobrar o enleio, em que se achava já a rapariga.

Desse momento por diante, Daniel ficou inteiramente dominado por a sua irreprimível imaginação.

Felizmente as atenções de todos estavam atraídas pelas peripécias da esfolhada, que, a não ser isso, teriam dado que falar as maneiras do estouvado rapaz em todo o resto da noite.

Clara sentia um acanhamento nela pouco habitual; procurava vencê-lo, para refrear a imprudente exaltação do seu vizinho, mas todos os esforços eram baldados. Nem parecia a mesma, de tímida que estava.

Daniel, por mais de uma vez, serviu-se das fraudes usadas por os serandeiros e frequentadores de esfolhadas, para renovar os abraços; e isto sem procurar ocultar-se de Clara.





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