Mas como aconselhar a irmã, se ela lhe furtava todos os ensejos de confidências? Margarida fez o que o padre lhe ordenara. Pôs-se a espiar Clara. Foi uma amarga prova para aquele carácter feminino e por dois motivos diversos: - repugnava-lhe o papel que se julgou obrigada a desempenhar, e depois, a execução dele a cada instante lhe estava valendo descobertas, que dolorosamente lhe rasgavam o coração.
Ela percebeu que em Clara se passava qualquer coisa de singular.
Ao aparecer Daniel, ou quando ao longe lhe soavam os passos, já os olhos de Margarida viam espalhar-se, pelas faces da irmã, uma turbação pouco discreta; era com não disfarçada vivacidade, que se curvava para o ver passar, e com voz alterada de sobressalto que lhe respondia e conversava com ele.
Todas estas observações inquietavam Margarida. Padecia pela felicidade de Clara, que via ameaçada assim, e por si, cujas antigas ilusões, cujo sonho oculto, que, apesar de não ter confiança na sua realização, ela acalentava ainda, se iam pouco a pouco desvanecendo - e em que desprestigiosa realidade!