- Mas não falemos em mim - continuou Margarida, com voz cada vez mais serena. - Clara está melhor, temo porém ainda que não possa receber com firmeza e ânimo frio a visita de Pedro. Será possível, sem causar desconfianças nele, adiar para mais tarde essa primeira visita?
- É possível, é - respondeu o reitor, enquanto que Daniel, folheando maquinalmente um livro, parecia nem atentar no que se estava dizendo. - O pobre rapaz está com remorsos de ter suspeitado de Clara e treme só com a lembrança de a ver.
- É necessário que se lhe faça acreditar que minha irmã ignora e deve ignorar sempre tudo o que se passou, ou pelo menos que nada sabe das suspeitas que Pedro...
- Mas... - ia o reitor a dizer.
Margarida interrompeu-o, continuando:
- É indispensável. Eu conheço muito bem Clara; pode sujeitar- -se a tudo, menos a ouvir Pedro, cheio de arrependimento, pedir-lhe perdão, a ela que é... que se julga ser a verdadeira culpada.
- Tens razão, Margarida - disse o reitor, depois de ter estado por algum tempo a ponderar o caso - tens razão. E assim é melhor até porque se evitam explicações, que não poderiam ter muito bons resultados. Mas...
- E agora permitem-me que vá ver Clara, sim?
- Pois vai; mas... - insistiu o reitor seriamente embaraçado com alguma coisa, que ele queria dizer, sem encontrar maneira conveniente.
- Que é? - perguntou-lhe Margarida, percebendo aquela hesitação; e acompanhava a pergunta com um sorriso de habitual tranquilidade.
- Mas... isso como assim não me pode sair da ideia - continuava o padre.
- O quê?
- Sim, a falar a verdade..., tu, minha filha...
- Eu... que tenho?
- Tu... assim... Valha-me Deus! Não se pode fazer nada...
- Por quem é, Sr. Reitor, não torne a falar nisso.