Se me estima, se me quer, como diz, não me pergunte nada; não? Deixe-me só, peço-lhe por favor, por alma de minha mãe. Logo volte e, quando voltar, verá que me há-de achar contente, prometo-lho. Que mais quer? Os abalos da noite passada causaram-me isto. Não sei que tenho. Vá, peço-lhe que vá. Então não vai?
O padre olhou por muito tempo para ela e depois, tomando o chapéu, saiu sem dar palavra, mas limpando uma lágrima também.
Margarida, vendo-o sair, deixou-se cair outra vez de joelhos sufocada pelo choro.
- Fraca! fraca! - dizia entre soluços - que não tive forças para me sustentar até ao fim! Vá, vá, acabem de correr por uma vez estas lágrimas; e que sejam as últimas; que ninguém mas veja mais nos olhos. A causa, a causa... oh! essa, ninguém a há-de adivinhar.
- Enganas-te, Guida. Adivinhei-a eu já.
Margarida ergueu-se de repente ao escutar estas palavras, que lhe foram ditas quase ao ouvido. Voltou-se. Era Clara.
- Que dizes, Clara? que estás a dizer, filha?
No rosto de Clara, onde uma pouco costumada tristeza se desenhava ainda, havia um ligeiro sorriso de malícia, da que se poderá chamar angelical, se alguma vez for lícito associar estas duas palavras.
- Digo que te adivinhei, Guida. Que mais queres? Estás descoberta, minha reservada. Não tinhas confiança em tua irmã, e assim te perdias por uma pessoa, de quem desconfiavas! É acção de santa, é; mas eu te prometo que isto não há-de ficar assim.
- Clara, tu não sabes o que dizes.
- Escuta. Que promessas, que oferecimentos eram aqueles do... do Sr. Daniel? e porque os não aceitaste tu?
- Clarinha!
- Vamos. Eu ouvi tudo o que disse agora o Sr. Reitor. Não mo queres dizer? Digo-to eu. Daniel propôs-te...
- Basta, Clara, basta. Bem sabes que não aceitei.