- Ah! também já sabe? - perguntou o sacristão.
- Ora se já sei! Pois eu não estive lá?
- Ai, pois viu?
E os quatro, que em comum fizeram esta pergunta, fitaram avidamente os olhos no jornaleiro.
- Eu lhe digo - disse o homem, tirando o chapéu e coçando na cabeça. - Eu tinha chegado de fora, havia meia hora. Tinha sido rogado para uns trabalhos aí para longe. Por sinal que me pagaram, como a cara deles. Sempre lhe digo, Sr. João, que isto de jornais está uma pouca vergonha. Deu o que tinha a dar. Eu lembro- me dantes... Mas, vamos ao caso, eu chegava a casa e tinha dito lá, à minha patroa... que, coitada, também não tem andado lá essas coisas, não - mas tinha-lhe eu dito que me fritasse uns ovos com presunto - e, deixe-me dizer, que os ovos este ano também são uma peste. Parece que deu o arejo nas galinhas. Diabos as levem. Daqui a pouco, da maneira que isto vai, ficamos sem ter que comer e a fazer cruzes na boca. Mas estava lá a minha patroa a fritar-me os ovos... É verdade, ó Sr. João, que diabo de azeite me deu vossemecê, o outro dia, que nem à mão de Deus padre se pode levar?
- Homem, pois ninguém mais se me tem queixado dele. É você o primeiro.
As mulheres e o sacristão começavam a impacientar-se.
- Eu não sei que lhe acho, sabe-me a chapéu velho, o maldito.
Mas estava lá a minha Quitéria ao lume, eis senão quando, eu ouço uns gritos de - «Aqui del-rei».
- Então eles gritaram «Aqui del-rei»?
- Que os ouvi eu, sim, senhor, tal qual. Pus-me logo na rua.
Porque eu cá sou assim. Olhe o Sr. João quando foi daquela espera que fizeram ao escrivão da fazenda, eu lá estava.
- Na espera? - perguntou o sacristão, em tom de zombaria.
- Não que eu não sou desses - respondeu o jornaleiro, carregando a sobrancelha; - quando quero fazer mal a alguém, não me escondo.