vias-sacras e em perene confissão; obra dos gordos missionários, que deixam a outros o cuidado de desbravar a gentilidade das nossas possessões, para andar na tarefa mais cómoda de tolher o trabalho e a actividade na casa do lavrador.
Imbuindo o espírito das mulheres de preceitos de devoção absurda, afastam-nas dos berços dos filhos, da cabeceira do marido enfermo, do lar doméstico, para as trazer ajoelhadas pelos confessionários e sacristias; com uma brava eloquência, perigosa para quem não tiver o senso preciso para a achar ridícula, incutem-lhes falsas doutrinas, desmentidas e condenadas em cada página do Evangelho, tão severo sempre contra fariseus e hipócritas.
Numa localidade, não muito distante do Porto, ainda há pouco um desses apóstolos, que andam por aí reformando escandalosamente a moral dos povos, pregou do púlpito «que a salvação de um homem casado era tão difícil, como o aparecimento de um corvo branco».
É triste e desconsolador o aspecto da terra, onde esta praga farisaica tem feito maiores estragos. A alegria do povo, esse reflexo da alegria das mulheres, porque das mães se reflecte nos filhos, das esposas nos maridos, das raparigas nos amantes, desaparece pouco a pouco.
Com os trajos escuros, os cabelos cortados, os olhos baixos, as mulheres têm por pecado o rir; o cantar como um crime; ou se cantam, são certas cantigas ao divino, ensinadas pelo missionário, nas quais a austeridade do conceito nem sempre é mais respeitada do que a eufonia da forma. Algumas ouvi eu, em que a vinda dos missionários era saudada com um vigor de imagens, quase oriental; eram arremedos grosseiros do Cântico dos Cânticos, que fariam rir, se se lhes não percebessem piores intenções.
E no meio destas ostentações de