- Espere, espere - exclamou a Sr.ª Teresa ofendida - isso que quer dizer?
- Não posso estar a taramelar das vidas alheias, que tenho a olhar por a minha.
E saiu.
Não lhe ficaram fazendo muito boas ausências as mulheres, que se conservaram na loja.
A beata sobretudo espalhou todo o seu fel em palavras acerbas, apesar da costumada doçura de pronúncia, com que lhe saíam dos lábios.
Afinal retirou-se também da loja para ir contar a outra parte o escândalo da noite passada, já mais ampliado talvez.
Dentro em pouco, não se falava em outra coisa na aldeia. Cada imaginação se encarregava de variar o boato...
Houve quem desse Daniel quase morto e o irmão fugido; outros que pelo contrário ungiam Pedro e desterravam Daniel.
De Margarida dizia-se que tinha querido sacrificar a irmã e que esta a punha fora de casa, deixando-a assim a pedir esmola: e mil outras variantes, que o leitor pode conjecturar.
- Este rapaz não acaba bem. Ora verão - concluiu, no fim de tudo isto, o Sr. João da Esquina.
A Sr.ª Teresa apenas observou:
- Mas como lhe deu para olhar para aquela rapariga? Vejam as grandes bonitezas!
A menina Francisca, inclinada sobre o mostrador da loja, escrevia nele distraidamente, com um gancho do cabelo, diferentes palavras sem nexo, e no fim suspirou.