- Isto será mais tarde do que supunha? - disse o reitor, parando no patamar e consultando o relógio. - Dez horas. só se o relógio se atrasou; mas esta manhã ainda...
As pancadas sonoras da campainha de um pequeno relógio da sala interromperam-lhe o monólogo.
- Quatro, cinco, seis, são dez, não há que ver - dizia o reitor, contando-as - sete, oito... é isso; nove, e dez. São dez horas, são.
Mas então...
E subia, mais apressado já, um segundo lanço de escadas.
- Margarida estará doente? Porém, se fosse de cuidado, tinha- -me mandado parte; e não sendo, não era ela a que por qualquer coisa...
E entrou na primeira sala. Escutou - o mesmo silêncio.
- Ou! Estou admirado!
Desta sala passou à do trabalho.
Estava deserta, postas de lado as pequenas cadeiras das crianças, arrumados os cestos de costura e os livros, e na sala aquele ar de tristeza que parecem ter, quando desertos, todos o lugares ordinariamente concorridos.
Sentiu esta impressão o reitor; foi agitado de secreto receio que atravessou os corredores e abriu a porta do quarto de Margarida.
Encontrou-a sentada, a ler, com a fronte encostada à mão, o semblante sereno, mas abatido, e nos olhos vestígios de lágrimas, enxugadas de pouco.
- Que significa isto? - disse o reitor, dando às suas palavras um tom jocoso, mas conservando no olhar a mesma vaga inquietação.
- É hoje dia de sueto.
Margarida fechou o livro, ergueu-se para beijar a mão ao reitor e com uma voz, onde, quem estivesse exercitado em estudá-la, podia perceber ainda um desvanecido tremor, respondeu:
- As mães das minhas discípulas quiseram dar-me tempo para o arrependimento e para a penitência. Dispensaram-me dos meus serviços. E eu... aproveitei o conselho, que me deram, assim.