Margarida, banhada de lágrimas, baixou-se e uma por uma as apertou ao seio, sem poder falar de comovida.
- Bem, minhas filhas, bem - disse o reitor. - Dais assim um nobre e belo exemplo a vossas mães; é decerto a mão de Deus que vos tocou os corações. Quem se recusará a imitá-las?
- Eu não - disse uma voz por detrás do reitor.
Este voltou-se e viu José das Dornas, que se aproximara havia alguns momentos e assistira à cena, que descrevemos.
O velho lavrador, depois de responder assim ao pároco, aproximou- se também de Margarida e, pegando-lhe na mão, disse:
- Minha filha, eu tenho sessenta anos. Desde que minha mãe morreu... há quarenta anos quase, nunca mais beijei a mão a ninguém.
Pois digo-lhe que o faço agora ainda com mais respeito, do que fazia então.
E o rude, mas generoso lavrador, baldando a resistência de Margarida, imprimiu-lhe na mão um beijo, em que ia toda a franqueza e lealdade daquele carácter.
Ao endireitar-se, achou-se nos braços do reitor.
- Bravo, José! bravo, meu homem! Isso esperava eu de ti, que te conheço há muito. Bravo! bravo! - dizia ele entusiasmado até às lágrimas.
O exemplo obrigava. Algumas mulheres aproximavam-se já de Margarida e houve uma, que lhe segurou a mão.
Margarida porém retirou-lha e, esquecida da injúria passada, recebeu-a nos braços.
As outras, livres assim da acção, que mais lhes magoava o orgulho de mulher, correram já de boa vontade a abraçarem a pupila do reitor.
Enquanto se passava esta cena, o padre, chamando à parte José das Dornas, perguntou-lhe:
- Então soubeste?...
- Esta manhã foi que mo disseram. Creia, Sr. Reitor, que não pus más suspeitas na rapariga. Eu sei de que diamante é feito aquele coração. Corri a procurá-la para lhe dizer isto mesmo; soube que tinha saído com o Sr.