E eu então... disse-lhe...
- O quê, meu Deus!
- Disse-lhe... que tu o amavas.
- Ó Clara! que foste fazer? - exclamou Margarida, juntando as mãos.
- O que devia. De que servem esses fingimentos? Pois não o amas tu deveras?
- Ai, Clara, Clara; não te perdoo isso, não.
- Nem eu quero que me perdoes, hás-de agradecer-mo. Se visses como ele ficou quando lhe contei tudo; porque eu contei-lhe tudo. O teu choro de ontem de manhã, como eu te fui achar, o que te disse, o que me respondeste, tudo enfim. Parecia-me um louco, o rapaz; abraçava- me, ria... Depois eu propus-lhe que viessem, ele e o irmão...
- Que viessem?...
- Que viessem comigo.
- Aonde?
- Aqui.
- Aqui e então?...
- E então vieram. Estão naquela sala, esperando.
- Ó Clara!
- Pois não fiz bem? Agora vais dizer que sim, quando ele de novo te propuser...
- Não, nunca o direi.
- Como quiseres. Mas lembra-te do que eu te jurei.
- Clara!... Clara!... minha irmã!... minha amiga!... repara ao que me queres obrigar. Pois força-se alguém a uma coisa assim? Diz: Queres que eu me abaixe a...
Neste ponto foram interrompidas por José das Dornas e pelo reitor, que, depois de muito conferenciarem, se aproximaram delas.
- Vocês perdoem, se eu lhes interrompo a conversa, raparigas; mas é que tenho que falar a Margarida - disse José das Dornas, afagando com as mãos a copa do chapéu, e dando mostras de embaraçado.
As duas irmãs olharam atentas para o velho lavrador, que prosseguiu:
- Margarida, o meu filho Daniel é um estouvado.
Margarida desviou os olhos, perturbada.
José das Dornas, vendo isto, julgou que teria principiado mal, e dirigiu ao reitor uma interrogação muda. O padre fez-lhe sinal que continuasse, e ele continuou:
- Desde criança o conheci assim.