.. - e aproveitou esta reticência para um sorriso benevolente - foi jeito que tomou em pequeno. Amores antigos... Lembra-se, Sr. Reitor, que por causa desta é que o rapaz não nos canta hoje missa? Porque dizia ele, já então, que havia de casar com a menina.
- É verdade, é verdade - respondeu o reitor em tom igualmente jovial - tinha coisas o rapaz!
E os dois velhos desataram a rir, com todas as veras do coração.
- Pois enfim - disse em seguida o lavrador - às vezes são coisas talhadas por Deus. Deixe lá. O casamento e a mortalha... lá diz o rifão. Eu cá tenho o meu palpite, que, se a menina aceitar, o rapaz toma emenda, o que para ele era uma felicidade, porque, a Margaridinha bem o sabe, isto de cirurgiões e médicos quer-se gente séria, ou não fazem nada. Por isso, resta saber se a menina aceita, porque se não, adeus! Faço uma figa ao amor de pai e não descanso sem pôr o rapaz fora daqui. Pense nisto a menina, e quando Daniel voltar...
- Nada de pensar mais tempo - exclamou Clara, não podendo já reprimir a alegria, que lhe tinham causado as palavras do lavrador.
- As coisas querem-se decididas depressa; também é mau pensar de mais. Vêm-nos de Deus às vezes certas lembranças, que se perdem, se pensamos muito... Eu vou buscar o noivo.
E aproximando os lábios do ouvido da Margarida, a qual se conservava ainda calada e com os olhos fitos no chão, disse-lhe:
- Vê lá agora o que vais fazer; olha que tu a dizeres que não e eu a contar tudo, como foi. Ouviste?
E, sem esperar resposta, correu à porta e fez sinal para dentro da sala imediata.
Daí a pouco tempo, entraram Pedro e Daniel.
- Ah! Estavam aí?! Pois melhor... - disse José das Dornas, ao vê-los.
O reitor sorria de esperanças.
Daniel aproximou-se de Margarida, que tremia sobressaltada.