Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: XIII

Página 82

- Ah! é o Sr. Reitor? Não dormia, não...

- Então?

- Pensava.

- Em quê?

- Em quê! E falta-me em que pensar? Na minha vida passada e na futura, que está próxima já.

- O passado - disse o reitor sentando-se do outro lado da mesa e sem desviar os olhos do velho Álvaro - é um sonho, que se sonhou. E quando dele, felizmente, não ficaram remorsos, que peçam reparações, arrependimentos, ou... penitências, perde-se muito tempo, a pensar nele assim. Da vida futura... bom é ter dela sempre o pensamento, decerto, mas quem sabe lá quando nos está próxima?

- Sei-o eu. Há dois dias que me sinto fraco, muito fraco. Nem já pude sair para, como costumava, ir ver o pôr do Sol lá acima, dos degraus da capela do Calvário.

- Isso lá... todos nós temos dessas fraquezas, sem causa. Há dias assim. E então desanima por isso?

- Desanimar! - replicou o velho, sorrindo tristemente. - E que ânimo tenho eu ainda para perder? Há muito que ele me falta na vida. Bem vê - continuou, apontando para Margarida - que tenho precisado de um braço para me sustentar.

- Grande ânimo tem o que sai das grandes provações com a cabeça levantada. Para que se faz cobarde, diante de quem lhe conhece e admira a coragem? A Cristo, também houve uma mulher, que lhe limpou o suor da fronte vergada; e mais era um ânimo divino, aquele.

- Não, eu não sou forte - continuou o velho doente. - Colocado, como estou, entre a morte e a vida, receio-me de ambas. Desfalece- me o alento diante das provações continuadas de uma; assusta-me a incerteza, o desconhecido da outra. O meu coração é muito da terra para poder ser forte. Os meus olhos ainda se não secaram para as lágrimas. . .

- Bem-aventurados os que choram! - redarguiu o reitor.

- Como me não há-de assustar a vida se há muito que, onde busco a consolação, encontro só o desespero? - continuava o enfermo.

<< Página Anterior

pág. 82 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 82

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316