Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: XIV

Página 92

Com audácia, mal encoberta por transparente modéstia, o barbeiro expôs assim a sua opinião:

- Enquanto a mim, e até onde chegam as minhas fracas luzes, aquilo é o flato que lhe subiu ao coração. Por isso a doentinha tem aqueles pasmos, que se vêem. Ora os sinapismos, puxando-lhe os humores para os pés, algum bem lhe podem fazer. Mas eu por mim, Sr. João Semana, penso que nestas doenças de retrocesso, a matéria reimosa não sai sem sedenho. E que ali há matéria reimosa - e fel, que é ainda pior - isso é que há. Já vê então... mas isto digo eu; agora lá os senhores, que estudaram... - acrescentava humildemente, mas obliquando para Daniel um olhar, de quem estava satisfeito de si.

Daniel tratou senhorilmente este colega de contrabando e na ocasião em que ele se entranhava, mais entusiasmado, na exposição de uma teoria sua, na qual ferviam os humores, os flatos, as matérias reimosas, os postemas e não sei que mais, em indigesta caldeirada, interrompeu-o perguntando-lhe secamente.

- Teve hoje muito que fazer, mestre?

O barbeiro acolheu a pergunta com um sorriso e uma mesura.

- Está feito. Apenas fiz três visitas.

- E quantas barbas?

O mestre mordeu os beiços, antes de responder:

- Nenhuma.

Este colega do célebre Oliveiro - o gamo - não gostava que lhe falassem na única das coisas em que era eminente.

É uma fraqueza esta mais comum à humanidade, do que talvez se julga.

João Semana reparara nesta curta cena, e tomando de parte Daniel, aconselhou-o a que poupasse o barbeiro, e o aceitasse como colega, sob pena de indispor contra si a primeira gente da terra.

- Meu caro amigo - concluía ele - quem quiser viver bem neste mundo faz a vista grossa a muita coisa. Está bom, está!

E, como para não perder um hábito antigo, acrescentou:

- Você quer saber? quando eu andei no Porto, conheci lá um frade, que era pregador de nomeada.

<< Página Anterior

pág. 92 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 92

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316