— Sabe vossemecê que mais? — interrompeu com abrupta resolução D. Teodora — pego em mim, meto-me numa liteira, e vou por aí abaixo até à capital. É o que eu faço!
— Essa ideia precisa de ser pensada com prudência — observou o mestre-escola, erguendo-se, e dando alguns passeios na eira, onde estavam dialogando. — Se a fidalga for, esta casa fica sem dono, entregue à criadagem, e o Sr. morgado pode zangar-se. De mais a mais, ora suponhamos nós que o senhor seu esposo está, como ele diz na sua carta, ocupado em negócios do Estado; a ida de V. Exa. vai atrapalhá-lo, porque ele não a há-de deixar sozinha na estalagem. Depois a fidalga vai, palavra puxa palavra, um diz uma coisa, outro diz outra, e afinal desavêm-se, e começam a viver de esguelha. A minha opinião é que V. Exa. se deixe estar em sua casa, e espere a ver para onde correm os ventos. Se ele por lá anda com a cabeça a juros, deixá-lo pagar o tributo, que ele cairá em si. Antes isso que quebrar uma perna. Lá o dinheiro isso é o menos. A casa dá para tudo, graças a Deus. A fidalga não sabe o que tem de seu. Lá quanto ao marido, uma extravagância não lhe dá nem tira. Salomão foi o mais sábio dos homens e teve trezentas mulheres e setecentas concubinas, e mais acho que foi santo. David também era santo, e caiu também na fraqueza de amar a mulher de um capitão, general, ou uma coisa assim. As sagradas escrituras contam muitos casos destes…