A Queda de um Anjo - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 48 / 207

Formou-se e doutorou-se Libório, sem impedimento de uns rr que, alguma vez, lhe acalcanharam o orgulho. Em seguida foi visitar a Europa; e, de volta aos lares, achou-se no regaço da estúpida fortuna que o beijou, na fronte, e lhe disse: «Este anélito de meus beiços coa-te fogo ao cérebro! Amo-te porque careço de ti. Eu sou a Circe dos Gregos: bestifico tudo o que toco, e em ti delego o condão de radiares tua bestidade ao cérebro de quem embarrar por ti. Proponho-me transfigurar, não já em cochinos, mas em mais nobres alimárias, os regedores da coisa pública de Portugal. Tu, dilecto, vai caminho da glória. Hoje és deputado; daqui a pouco serás ministro.»

De feito, Libório estava deputado, à mesma hora em que o fidalgo da Agra de Freimas era fadado a ser um dia verberado no Parlamento pelo filho do inventor da aguardente de nabos.

Calisto entrou à sala, e, digamo-lo com espanto de sua fleuma, ia tranquilo e até contente, sem embargo de lhe haverem dito alguns colegas quão funesto era o contendor que a sua má sorte e imprudência lhe deparara.

O Dr. Libório, dada a palavra, ergueu-se com ademanes não vulgares, alisou os bigodes, encravou na órbita esquerda um vidro sem grau, e disse:

— Sr. presidente, discorri cerca de um ano por estranhas plagas. Fui-me mundo fora com o meu bordão e concha de romeiro do progredimento social. Bebi tragos nas enchentes e mel hibleu que desborda dos mananciais da civilização.





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