As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 28: XXVIII Pág. 197 / 332

Pois admira-me em ti, que não és dessas coisas. É uma cisma que te hei-de fazer perder, assim como tu me fizeste perder a das bruxas, que eu dantes tinha. Lembras-te?

Horas depois, Clara despedia-se da irmã, dizendo-lhe:

- Então, Guida, até logo. Eu bem queria que viesses, mas fizeste voto...

- Bem sabes que não sinto alegria nessas festas.

- Como hás-de tu senti-la, se nunca vais lá?

E Clara partiu e pulava-lhe o coração de contente quando ia pelo caminho.

O génio de Clara pedia-lhe isto. Eram uma necessidade para ela as alegrias e as festas.

Não se lhe coadunavam com a índole as melancolias de Margarida.

Quando só, saía-lhe dos lábios tão depressa o canto, como os suspiros do seio da irmã.

E a alegria duma, como a tristeza da outra, nem sempre tinham motivo definido.

Vinham-lhes do coração, que parecia espontaneamente exalá-las.

Na natureza há fenómenos assim. O canto de algumas aves parece uma lamentação, repassada de profunda melancolia; o de outras soa brilhante, como hino festivo, nos coros da criação; e nem sempre as primeiras têm pesares, de que se carpirem, nem estas júbilos a celebrar.

O canto sai-lhes assim modulado por uma disposição natural; pois, quase de igual forma, acudiam os sorrisos aos lábios de Clara e as lágrimas aos olhos de Margarida.





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