Horas depois, Clara despedia-se da irmã, dizendo-lhe:
- Então, Guida, até logo. Eu bem queria que viesses, mas fizeste voto...
- Bem sabes que não sinto alegria nessas festas.
- Como hás-de tu senti-la, se nunca vais lá?
E Clara partiu e pulava-lhe o coração de contente quando ia pelo caminho.
O génio de Clara pedia-lhe isto. Eram uma necessidade para ela as alegrias e as festas.
Não se lhe coadunavam com a índole as melancolias de Margarida.
Quando só, saía-lhe dos lábios tão depressa o canto, como os suspiros do seio da irmã.
E a alegria duma, como a tristeza da outra, nem sempre tinham motivo definido.
Vinham-lhes do coração, que parecia espontaneamente exalá-las.
Na natureza há fenómenos assim. O canto de algumas aves parece uma lamentação, repassada de profunda melancolia; o de outras soa brilhante, como hino festivo, nos coros da criação; e nem sempre as primeiras têm pesares, de que se carpirem, nem estas júbilos a celebrar.
O canto sai-lhes assim modulado por uma disposição natural; pois, quase de igual forma, acudiam os sorrisos aos lábios de Clara e as lágrimas aos olhos de Margarida.