Às vezes, há por lá desordens, rixas...
- Ai, sossega. Eu te prometo que não me meterei em nenhuma.
- Promete-me também que não darás causa a nenhuma - tornou Margarida, sorrindo.
- Como queres que eu dê causa a uma desordem, doida?
- Como há-de ser? Eu digo-te, mas não te arrenegues. Tu tens um bocadinho de ruindade, confessa; e, às vezes, para te divertires, gostas de fazer perder a paciência aos outros. Ora, Pedro tem um génio assomado...
- Deixa-te disso. O Pedro não é homem para se finar por ciúmes só por ver receber um abraço, em noite de esfolhada. Era o que me faltava também!
- Pois Deus vá contigo, filha; mas lembra-te que dentro em pouco és mulher casada e que o teu noivo está ao pé de ti.
- Está descansada. E depois, sabes o que o Pedro me disse em segredo? O irmão também faz tenção de ir à esfolhada.
- Quem? O Sr. Daniel?!
- É verdade. Que graça! Mas o Pedro não quer que isto se saiba, para que lhe não faltem as raparigas, com medo ou com vergonha.
Estou morta por ver como elas ficam, assim que o virem lá.
Ora dize tu, se isto se podia perder.
- Ainda pior.
- Que dizes? Ainda pior! Pois também és das que o pensam excomungado? Pobre rapaz! Quem ouvir falar a essa gente por aí há-de fazer dele uma ideia!... Pois não tem nada do que dizem. É amigo de rir, isso sim, mas também sabe falar sério, quando é preciso.
E não ouves o que muitas vezes o Sr. Reitor tem dito a respeito dele? Que é um excelente coração, afinal.
- Nem eu digo o contrário, mas...
- Mas és uma medrosa, é o que tu és; uma medrosa, que me andas por aí sempre a sonhar sonhos negros. Um dia hei-de fazer- -te falar com ele e verás...
- Ai, não, não - exclamou Margarida, quase assustada.
- E como dizes isso! Que medos! Estás como a outra gente, já vejo.