As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 42: XLII Pág. 330 / 332

- Espera, onde vais tu com tantas pressas? Então não se te alegra o coração com estes espectáculos?

- Alegra, alegra... mas os meus oitenta anos é que são de mais para a alegria dos noivos. Eu, tu e José das Dornas devíamo-nos retirar, porque eles estão agora persuadidos que nunca envelhecem nem morrem, e nós estamos aqui a bradar-lhes com os nossos cabelos brancos: Memento... et cae tera, et cae terá. Diz tu o resto do latim, se quiseres.

- Isso era bom se eles se lembrassem de nós. Mas parece-me que nem deram por ti ainda. Demora-te pois, João, demora, que me hás-de acompanhar, e mais ao José das Dornas, em uma saúde aos noivos.

- Pois vá lá - respondeu João Semana - ainda que saúdes aos noivos, feitas por velhos... Sabes o que dizia o prior de S. Domingos?

Não podemos saber o que era, porque João Semana disse-o só ao ouvido do reitor, o qual não pôde suster o riso, ainda que, com um gesto de má vontade, observou ao jovial clínico:

- Valha-te Deus, homem... quando te deixarás dessas histórias?

E o reitor, usando da familiaridade que tinha em casa, foi, ele próprio, buscar a garrafa e os copos, para a saúde combinada.

Neste ponto, ouviram-se passos apressados na escada, e à porta da sala assomou a figura ofegante da Sr.ª Joana, a quem não sofreu o ânimo, que não viesse procurar Margarida.

Encontrando tanta gente na sala e o seu amo incluído no número, a boa mulher parou embasbacada.

- Aí vinha outra às vozes, como tu - disse o reitor a João Semana.

- Você que faz por aqui, mulher? - perguntou este à criada.

- Eu?

E Joana não sabia o que dissesse.

- Esturro tenho eu hoje no arroz - disse João Semana, rindo.

- Não há-de ter, se Deus quiser.

Clara correu a Joana e abraçando-a com alegria, disse-lhe:

- Fez bem em vir.





Os capítulos deste livro