Pareceu-lhe também ver nos criados um ar de susto e de perturbação, que acabou de lhe fazer perder a frieza de ânimo. Correu, em vista disto, a casa do reitor, também o não encontrou. Calculou que estaria em casa das pupilas e dirigiu-se para lá.
Imagine-se pois se o não irritaria a presença de espírito, o ar de gracejo, com que lhe respondeu o reitor! Subiu as escadas, disposto a pôr de parte todas as cautelas, e a dar a novidade sem lhe importar as consequências.
Ao entrar na sala ficou porém imóvel de admiração, com o que viu.
José das Dornas, sentado, limpava uma lágrima de satisfação; a uma janela, Pedro e Clara entretinham-se, conversando amigavelmente; a outra, Margarida escutava Daniel, que lhe estava falando do passado e do futuro, da maneira desordenada por que se fala, em ocasiões assim.
O velho cirurgião olhava boquiaberto para uns e para outros, sem saber o que pensar daquilo tudo; afinal olhou para o reitor, que lhe pregou uma risada.
- Isto que quer dizer? - perguntou João Semana, conseguindo enfim fazer uso da língua.
- Quer dizer que estás convidado desde já, para duas bodas - respondeu o reitor, designando com os olhos os dois grupos, tais como os últimos acontecimentos os tinham formado.
- Então, que diabo me tinham dito?...
- Ora! e tu dessa idade ainda a engolir todas as pílulas que te impingem! É bem feito, que também às vezes as receitas de calibre de granada. Então contaram-te coisas horrorosas? Eu logo vi. Estava a ler-tas na cara; pois agora conta tu o resto da história a essa gente e que façam o favor de se calarem por uma vez com isso.
- Melhor foi assim - disse João Semana, um pouco envergonhado da sua credulidade; - já vejo que não faço nada aqui, adeus!
E ia a retirar-se.