A Queda de um Anjo - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 74 / 207

Ó coração sensível! Ó pecadora Catarina, que vais agora expiar o teu crime na cruz da saudade! Aquele Calisto, cuidando que te salvava, matou-te!

Não foi tanto quanto diz a apóstrofe; mas, de feito, Catarina, quando recebeu de Bruno de Mascarenhas uma carta saturada de sãs doutrinas e reflexões, como as faria S. Francisco de Sales a madame du Chantal, entendeu de si para consigo que devia morrer de respeito e raiva. O fugitivo escrevia-lhe pouco antes de embarcar-se. Não referia o diálogo com Calisto; dava, porém, como certa uma tempestade a prumo das cabeças deles delinquentes. «Irei, dizia ele, morrer longe da mulher que amo, para lhe não sacrificar os créditos e os filhos. Se souberes que eu morri, recompensa-me esta virtude rara, dizendo em tua consciência que eu te amei, como já ninguém ama sobre a face da terra.»

Depois, seguiam-se na carta os conselhos ajustados à felicidade da vida. Expunha as consequências funestas das paixões. E terminava dizendo que as lágrimas o não deixavam continuar.

Que dama resistiria, depois disto, à Parca dura?

Encerrou-se a filha do desembargador, no intento de providenciar em artigo de morte, e entrouxar para a eternidade.

Nestas cogitações a surpreendeu a mana Adelaide, mostrando-lhe uma carta de um certo Vasco da Cunha, que escrevia desde muito, e honestamente, à menina solteira, no propósito de casamento. Este Vasco, de boa linhagem, conhecia Bruno, e via com desprazer os amores da dama, que havia de ser sua cunhada. Eventualmente soubera ele do embarque do Mascarenhas.





Os capítulos deste livro