Com a chegada de Sócrates e de «o espírito», o cosmo morreu.
Durante dois mil anos o homem viveu num cosmo morto ou agonizante, à espera de um futuro céu. E todas as religiões foram religiões do corpo morto e da recompensa adiada: para usar uma palavra cara aos filósofos, escatológicas'.
Para nós, é muito difícil compreender a mentalidade pagã.
Quando nos são apresentadas traduções de histórias do antigo Egipto, quase nos parecem totalmente incompreensíveis. A culpa talvez seja das traduções; realmente, quem poderá ter a certeza de saber ler a escrita hieroglífica? Todavia, quando nos são apresentadas traduções da tradição popular bosquímane ficamos num quase idêntico estado de perplexidade. As palavras podem ser inteligíveis, mas é impossível seguir a ligação que entre elas existe.
Mesmo quando lemos traduções de Hesíodo ou do próprio Platão sentimos que ao movimento foi arbitrariamente dado um significado que é falseador da sua conexão interna. Por mais que queiramos convencer-nos do contrário, o abismo entre a mentalidade do professor Jowett e a de Platão é quase intransponível; em última análise, o Platão do professor Jowett só é o professor Jowett que a custo exala algo de um vivo Platão.