As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 22: XXII Pág. 151 / 332

Principio a achar mais dignas do pincel do artista estas formosuras expressivas e, quase direi, enérgicas da aldeia, do que as sempre monotonamente lânguidas maravilhas da cidade. Pena é que o reconhecesse um tanto tarde. Resta-me já pouco alento para empresas de rapaz e, demais, a minha nova posição social obriga-me a uma seriedade que me tolhe a acção. Agora só devo aspirar às doçuras emolientes da vida conjugal. Não obstante, andam-me a tentar uns olhos pretos, e eu não sei se sustentarei o equilíbrio por muito tempo. Encomenda a todos os santos a manutenção da minha sisudez, se não queres ver perdida a fama do teu amigo, no ninho seu paterno.» As visitas de Daniel a casa do João da Esquina continuaram.

O mulherio da vizinhança falava já.

A Sr.ª Teresa deixava falar o mulherio. Se isso entrava até nos seus planos!

Uma vizinha, comadre e muito íntima da Sr.ª Teresa - uma só ocultava à outra o mal que dela dizia pelas costas - falando-lhe um dia, aludiu a Daniel e às suas visitas.

- Então, comadre? Pelos modos o nosso cirurgião novo gosta muito destes sítios.

- Cada um vai para onde mais lhe agrada, comadre.

- Isso lá é assim. E quem sabe o que será?

- Que será o quê?

- Sim, comadre, ele não é de raça que não seja a sua filha.

- Decerto que não é, não.

- Pois então...

- O futuro só Deus o sabe.

- É verdade. O ponto está que a sua pequena... Se ainda lhe não passou aquela cisma que teve para o Chico, sapateiro...

- O Chico, sapateiro! - exclamou indignada a Sr.ª Teresa. - Não que minha filha é cabedal muito fino, para ir às mãos de um remendão daqueles.

- Nisso tem razão. Inda se fosse com o Joaquim, sacristão...

- Qual sacristão, nem meio sacristão. A comadre pensa que uma criatura se sustenta com aparas de hóstias, e com escorralhas de galhetas?

A comadre aplaudiu com uma gargalhada o dito, e observou:

- O das estradas é que.





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