As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 25: XXV Pág. 173 / 332

Daniel sorriu.

- Mas veja lá, Daniel - continuou o padre - veja você este seu irmão. Que homem de casa aqui se está preparando! Esquecido a taramelar e o trabalho na eira entregue a criados que, quando eu passei, bem pouco se cansavam com ele. Tudo vai ao deus-dará nesta casa, depois que o maldito vício da caça virou a cabeça a este homem! Olha que um chefe de família, Pedro, não é só responsável por si, mas também por toda a sua gente - parentes e criados. - Ele é que deve dar o exemplo. E eu, para te dizer a verdade, não gostei nada de ver aquela doida da Maria, lá em baixo, com os meliantes dos teus criados, que só sabem tanger violas e dançar, como ainda agora faziam. Eu, apesar de a coisa não ser comigo, que não sou dono da casa, sempre lhes fui ralhando, para de todo não perder o tempo. Agora tu...

- Pois os vadios estavam a cantar e com o trabalho por fazer?

- Boa dúvida! Onde o patrão dorme, ressonam os criados. E fazem muito bem.

- Ora eu lhes vou dar já a cantiga.

E, distraído da sua paixão favorita, Pedro saiu do quarto, com direcção à eira.

- É um bom rapaz! - disse o reitor, ao vê-lo sair.

- Isso é. O Pedro há-de vir a dar um excelente pai de família - acrescentou Daniel.

- Para isso, basta-lhe o grande fundo de moralidade daquela alma - replicou o padre, indo buscar uma cadeira que aproximou da cabeceira do leito, no qual Daniel, a instâncias dele, se conservava ainda.

Daniel seguia com a vista os movimentos e gestos do padre e suspeitava que ele tinha alguma coisa a dizer-lhe.

- A moralidade - continuava este - é a primeira condição para a felicidade do homem. Como pode querer que o respeitem, o que não sabe respeitar os outros, nem respeitar-se a si próprio?

- Temos sermão - pensava Daniel.





Os capítulos deste livro