As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 37: XXXVII Pág. 267 / 332

Não vê que pouco se me importa? Não lho disse já tantas vezes?...

- Porém, Margarida, eu sou teu tutor, assim como de Clara; quero-te como pai e não posso, não devo consentir que o castigo caia sobre a cabeça inocente, sobre a tua cabeça, filha. É contra a justiça, é contra a religião.

- Inocente! - redarguiu Margarida a sorrir. - Que está a dizer, Sr. Reitor? Quem é inocente neste mundo? Deixe, deixe cair em mim isso, que chama castigo, que encontrará pecados a remir; e quisesse Deus que mos remisse todos.

- Ainda assim... Eu nem sei o que faça... Valha-me Nossa Senhora, valha! Sempre é uma esta!

E, ao dizer isto, o reitor olhava para Daniel, como que a ver se lhe viria auxílio dali.

Daniel, de braços cruzados e a cabeça inclinada, parecia ainda alheio ao diálogo dos dois.

Margarida aproximou-se do reitor.

- Não sabe o que há-de fazer? Digo-lho eu. Siga o seu primeiro pensamento, foi o de ajudar-me. Porque há-de desconfiar agora daquilo, que parecia aceitar com tamanha fé esta manhã? Não tinha desculpa se assim me deixava só a salvar Clara. Mas é tempo de ir ter com ela. Adeus.

E, dizendo isto, tomou-lhe a mão, que respeitosamente beijou, e ia a retirar-se.

Diante da porta encontrou porém Daniel, que a fez parar.

- Margarida - disse-lhe ele com profunda agitação manifestada na voz e no gesto - essa resolução não é tão unicamente de sua responsabilidade, como diz; sacrifica-se a sorrir, mas não repara que mais alguém pode sentir o sacrifício.

- Quem?

- Eu.

- Como?

- Que se dirá de mim, do meu carácter, vendo destruída por minha culpa a sua reputação, Margarida, e eu ocioso, tranquilo, descuidado... feliz?

- E que se diria, se se soubesse a verdade? Qual acha de preferir?

- Pois bem.





Os capítulos deste livro