- Ah! pois sim... mas... é que agora tem já outras canseiras...
Os estudos...
- Ah!... os estudos... É o que me lembra.
- Olhe, Sr. Reitor - continuava José das Dornas, um tanto incrédulo a respeito da mudança de inclinação do filho - eu, finalmente...
sim... como o outro que diz... não sei lá as razões que tem V. S.ª para pensar dessa forma... mas a mim, está-me a parecer que V. S.ª se engana.
O reitor tinha atingido os limites da sua grande paciência. Esta dúvida de José das Dornas, ainda que formulada a medo, acabou de resolvê-lo a ser mais explícito.
- E se eu te disser, José das Dornas - exclamou ele, parando e voltando-se para o seu interlocutor - se eu te disser que o teu filho Daniel, apesar dos seus doze, ou treze anos, que será a idade dele, tem já na aldeia a sua conversada?
José das Dornas parou como fulminado.
O reitor continuou o seu caminho.
- Que diz, Sr. Reitor?! - exclamou afinal José das Dornas, atrasado já uns cinco ou seis passos, e na mesma posição em que o deixara a revelação.
- O que sei!... - respondeu o reitor, com eloquente laconismo.
- Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo! Está o mundo roto! Pois o rapaz... Ó Sr. Reitor, palavra, que, se fosse outra pessoa que mo dissesse, eu não acreditava.
- E se eu te afirmar que vi, com os meus olhos, o teu Daniel, sentado no monte ao pé da rapariga, cantando juntos, lendo juntos, e afirmando-lhe o rapaz que nunca há-de ser padre, pois queria casar com ela?
- Ora, ora, Sr. Reitor, essa é de mais. Há-de perdoar, mas essa...
- E se eu te disser que lhe deu um beijo? - acrescentou o padre, em tom confidencial.
- Um beijo!
- E se eu te disser que ele, todos os dias, me sai da aula às cinco horas, e passa o resto da santa tarde junto da pequena?
- Ora o rapazinho!
- Então já vês que não convém fazê-lo padre.