As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 40: XL Pág. 301 / 332

À sombra das árvores brincava, a saltar e a dançar, um bando de crianças, a cujas vozes joviais respondiam da copa da alameda os gorjeios das aves escondidas.

As crianças, ao verem aproximar-se Margarida, mestra de quase todas, correram, soltando gritos de alegria, a beijar-lhe a mão.

As mães, porém, que estavam sentadas, fiando e conversando, nas soleiras das casas, que circundavam o largo, obrigaram-as a parar a meio caminho.

- Vem cá, Luísa! - bradou uma delas.

- Ó Maria, onde vais tu? - Para aqui, já; corra! exclamava outra.

- Ó Ana, ó Ana! então isso é o que eu te disse? Salte para casa.

Ande!

- Ó Ermelinda, não ouves? Não ouves, Ermelinda? Olha se queres que eu vá lá?

E no mesmo sentido partiram de todos os lados vozes, que constrangeram as crianças a pararem irresolutas.

A significação injuriosa daquelas palavras, daquelas ordens maternas, foi logo compreendida por Margarida e por o reitor.

Aquela tremeu e instintivamente apertou o braço do seu velho tutor; este tremia também, mas de indignação.

- Olá! - bradou ele, não lhe sofrendo o ânimo mais reservas - olá, Luísa, Maria, Ermelinda, Ana - aqui já, já, todas aqui já!

- Então, não ouvem?

As crianças aproximaram-se tímidas. Ele continuou, com voz rija e alterada pela cólera:

- Já que as vossas mães vos ensinam a ser desobedientes e malcriadas, aqui estou eu para vos dar a educação. Beijem a mão à sua mestra, já. Ouvem-me?

- Senhor! - murmurou Margarida.

- Deixa-me - respondeu o reitor, desabridamente. - Então, vamos!

As crianças tomaram a mão de Margarida e beijaram-na com timidez. Margarida abraçou-as, soluçando.

- E vocês lá! - continuou o padre, dirigindo-se às mães. - Tudo a pé! Que modos são esses de estar diante do seu Reitor?!

As mulheres levantaram-se respeitosas e mudas.





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