As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 42: XLII Pág. 323 / 332

E eu então... disse-lhe...

- O quê, meu Deus!

- Disse-lhe... que tu o amavas.

- Ó Clara! que foste fazer? - exclamou Margarida, juntando as mãos.

- O que devia. De que servem esses fingimentos? Pois não o amas tu deveras?

- Ai, Clara, Clara; não te perdoo isso, não.

- Nem eu quero que me perdoes, hás-de agradecer-mo. Se visses como ele ficou quando lhe contei tudo; porque eu contei-lhe tudo. O teu choro de ontem de manhã, como eu te fui achar, o que te disse, o que me respondeste, tudo enfim. Parecia-me um louco, o rapaz; abraçava- me, ria... Depois eu propus-lhe que viessem, ele e o irmão...

- Que viessem?...

- Que viessem comigo.

- Aonde?

- Aqui.

- Aqui e então?...

- E então vieram. Estão naquela sala, esperando.

- Ó Clara!

- Pois não fiz bem? Agora vais dizer que sim, quando ele de novo te propuser...

- Não, nunca o direi.

- Como quiseres. Mas lembra-te do que eu te jurei.

- Clara!... Clara!... minha irmã!... minha amiga!... repara ao que me queres obrigar. Pois força-se alguém a uma coisa assim? Diz: Queres que eu me abaixe a...

Neste ponto foram interrompidas por José das Dornas e pelo reitor, que, depois de muito conferenciarem, se aproximaram delas.

- Vocês perdoem, se eu lhes interrompo a conversa, raparigas; mas é que tenho que falar a Margarida - disse José das Dornas, afagando com as mãos a copa do chapéu, e dando mostras de embaraçado.

As duas irmãs olharam atentas para o velho lavrador, que prosseguiu:

- Margarida, o meu filho Daniel é um estouvado.

Margarida desviou os olhos, perturbada.

José das Dornas, vendo isto, julgou que teria principiado mal, e dirigiu ao reitor uma interrogação muda. O padre fez-lhe sinal que continuasse, e ele continuou:

- Desde criança o conheci assim.





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