As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 2: II Pág. 9 / 332

Ficou-se a coçar na cabeça, a encolher-se, a engolir em seco, a rosnar não sei o quê, e... mais nada.

- Anda, que eu desconfio que me vais saindo garoto e, se assim é, tens que ver comigo. Grandessíssimo brejeiro! Teu pai manda-te para o estudo ou para andares jogando a pedra com a outra canalha?

- Eu não andei jogando a pedra, não senhor! - exclamou Daniel, com tão eloquente vivacidade que, sem possível ilusão, atestava que ele não mentia.

- Então que fez vossemecê até estas horas?

Nova confusão do rapaz.

- Eu hei-de saber; hei-de mandá-lo vigiar, e depois direi a seu pai.

Nos quinze dias que se seguiram a esta cena, Daniel foi pontual às horas da escola. O reitor estava satisfeito com a emenda do rapaz e lisonjeado, lá muito para si, com o seu poder persuasivo e a conversão que operara com uma simples admoestação.

Ao fim das duas semanas encontrou-se por acaso com José das Dornas e já se não lembrava até de lhe fazer queixa do filho, que assim entrara obediente no bom caminho do dever. José das Dornas, porém, é que se mostrava preocupado. Quanto mais o padre lhe gabava a habilidade de Daniel, tanto mais o bom do homem parecia constrangido, limitando-se a soltar uns ininteligíveis monossílabos em sinal de aprovação.

- Que tens tu, José? A modo que te estou estranhando! - exclamou o reitor, já um pouco impaciente.

- É que, Sr. Padre António, eu... a falar verdade... queria dizer-lhe uma coisa.

- Pois dize, homem; dize para aí. Então deste agora em fazer cerimónias comigo?

- Eu sei o grande favor que o Sr. Reitor me faz, ensinando o pequeno...

- Bem, bem, adiante. Deixemo-nos agora disso. Se eu o ensino, é porque quero e gosto. O que estimo é que ele aproveite, como de facto aproveita; o mais são histórias.





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