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Capítulo 14: CAPÍTULO XIII

Página 123
Credo!

A tia maria era muito rezadeira, erguia-se de noite para não pender a sua missinha no verão ao romper do dia, e garganteava com uma melopeia fanhosa a via-sacra na quaresma, à volta da igreja; presenteava os santos dos altares com os mimos da sua lavoura, que se leiloavam ao domingo no adro, dava cama e mesa untuosa aos missionários, confessava-se todos os meses, e sentia pelas suas vizinhas menos beatas o inefável prazer de afirmar que tinham de cair vestidas e calçadas no inferno. O filho penetrou-se de uma ideia trivial a respeito da sua mãe: - que os sentimentos religiosos a levariam a dar o consentimento, se marta cometesse um desses pecados que se remedeiam com o matrimónio. O padre Osório dizia-lhe que a intenção era honesta, mas o expediente mau. Não lhe citou teólogos nem preceitos de origem divina. Argumentou-lhe com a hipótese da pertinaz resistência da mãe. Que não esperava nada da sua religião um hábito de trejeitos de mãos e de beiços, o automatismo idólatra dos selvagens da américa, que davam guinchos mecânicos, prostrando-se por terra, quando ouviram a primeira missa; que a religião das aldeias, sobre a dos indianos da catequese dos jesuítas, as vantagens que tinha era a hipocrisia em uns, e o fanatismo em outros, quando não se jantavam ambas as coisas nos mesmos fiéis, o padre Osório paroquiava e conhecia o seu rebanho, joeirando-o pelos crivos do confessionário. Não conhecia menos a tia maria de Vilalva. Afirmava que a fragilidade de marta seria para a velha mais um motivo de ódio e desprezo; porque, na sua cartilha e nos ditames dos seus diretores espirituais, não se lia nem ouvia que a mãe devia encobrir a desonra de uma rapariga casando-a com o seu filho, sedutor dela.

As reflexões do vigário de Caldelas eram ótimas, mas extemporâneas.

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pág. 123 (Capítulo 14)

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Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 123

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196