A Queda de um Anjo - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 23 / 207

Este clérigo, bem que tivesse exercido as funções desembargatórias na relação eclesiástica de Braga, era menos letrado que o antiquário de Caçarelhos, mas um tanto mais ilustrado em crítica da história. Por delicadeza, fingia engolir as araras que o morgado lhe ministrava guisadas pelo monge de Alcobaça Bernardo de Brito, por Fernão Mendes e Miguel Leitão de Andrade, e centenares de outros escrevedores de polpa, que mentiram «mais do que permitia a força humana».

Convencido da irresponsabilidade séria do juramento parlamentar, foi Calisto Elói de Silos empossar-se da sua cadeira na representação nacional. Porém, proferido o juramento, e antes de sentar-se, não teve mão de si, disse:

— Sr. presidente!

O abade de Estevães ainda ciciou um sio, como quem lembrava ao colega que o Regimento lhe tolhia o dom da palavra assim abrupta naquele acto; mas o presidente, como esperasse alguma extraordinária reflexão, deixou violar o artigo 3.° do título e ouviu-o.

Continuou Calisto:

— Sr. presidente! Nos primórdios da humanidade, a boa-fé dispensava os juramentos: hoje em dia, para tudo se faz mister jurar, porque a boa-fé desapareceu velut umbra da face da terra. Se bem me recordo, os casos de juramentos mais antigos lêem-se nas sagradas escrituras. Abraão jurou ao rei de Sodoma e ao rei Abimélec; Elieser a Abraão; e Jacob a Labão…

O presidente, como o riso andasse já contagioso na sala e galerias, observou:





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