A Queda de um Anjo - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 75 / 207

Pessoas que o viram a bordo referiram-lhe que o sujeito, perguntando acerca dos amores de Catarina Malafaia, respondera fatuamente que se ia escapando a um aguaceiro de escândalos, com que ele não queria brincar, porque a mulher, entusiasta e apaixonada mais que o necessário, seria capaz de o fazer assumir as funções de marido não canónico.

Pouco mais ou menos, era daquela amável contextura o período que D. Adelaide leu a sua irmã lagrimosa.

D. Catarina levantou-se com fidalgos brios, chamou pelos filhos, abraçou-se neles, e disse à irmã:

— Estou bem! Deus me perdoará, rogado por estes inocentes. Meu amado marido, como eu te quero hoje! Como eu sinto o teu coração a consolar-me nestes remorsos!…

Ora, eu não tenho a caridade de crer nos remorsos de D. Catarina; mas piamente acredito que a mulher se estava sentindo mais amiga do marido, fineza que ele devia agradecer-lhe com as suas mais melífluas carícias.

E veio logo a suceder que o esposo, surpreendido pela extremosa ternura da senhora, estranhou o caso, e requereu brandamente a explicação da improvisa mudança. Catarina, imaginosa como todas as pessoas que amam muito, explicou, entre alegre e lagrimante, que afinal se convencera que o seu Duarte a não traía: suspeita de tanta força para ela, que pudera empeçonhar, com as serpes do ciúme, a felicidade de duas almas ligadas por paixão.

Duarte ficou lisonjeado e satisfeito. Seguiu-se confessar ele também as suas vagas desconfianças quanto à lealdade da esposa. Aqui é que foi a cena, digna de mais conspícuo narrador.





Os capítulos deste livro