Há um instante em que deparamos com um vestígio do velho cosmo sobrenatural, quando o dragão se volta uma vez mais contra a mulher e lhe são concedidas asas de águia para voar rumo ao deserto; mas o dragão persegue-a e vomita-lhe para cima uma torrente com o fim de a subjugar: «Porém, a terra ajudou a mulher, e abriu a terra a sua boca, e engoliu o rio (...). E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra aos outros, seus filhos, que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo.»
Como é evidente, as últimas palavras são a moral final que um qualquer escriba judaico-cristão colou ao fragmento do mito. Aqui, o dragão é o dragão das águas ou dragão do caos, e ainda com o seu aspecto maléfico. Com todas as forças resiste ao nascimento de uma nova coisa ou de uma nova era. Volta-se contra os cristãos, pois eles são a única coisa «boa» que resta sobre a terra.
Daqui em diante, o pobre dragão faz triste figura. Cede poder, o trono e a grande autoridade à besta que sobe do mar, a besta com «sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfémia. E esta besta, que eu vi, era semelhante a um leopardo, e os seus pés como pés de urso, e a sua boca como boca de leão.»