E negam a influência da Lua?! No coração dão-se fluxos e refluxos de sentimentos, cuja teoria pode ter alguma coisa de comum com a do fluxo e do refluxo dos mares. É uma vaga crença esta, que me leva a supor a Lua favorável ao amor e indispensável à alegria das esfolhadas.
E do meu lado encontro José das Dornas, que esperou por uma noite de lua cheia para celebrar a sua festa.
O velho lavrador tinha dedo para dispor as coisas convenientemente.
Um enorme monte de espigas ocupava o meio da eira. Abertas, de par em par, as portas do cabanal aguardavam as amplas canastras, para onde se iam lançando as espigas esfolhadas.
Sentados em círculo, à volta daquela alta pirâmide, trabalhavam azafamados parentes, criados, vizinhos, amigos e conhecidos, que sempre afluem aos serões desta natureza, ainda quando não convidados.
Não havia lugares de distinção ali. Cada qual se sentava ao acaso ou, quando muito, conforme as suas secretas preferências.
A mais completa igualdade se estabelecera na companhia, desde os princípios dos trabalhos.
José das Dornas que sabia, como ninguém, manter, nas ocasiões devidas, a sua dignidade de chefe de família, dava desta vez o exemplo de sem-cerimónia, praticando jovialmente, até com o mais novo dos seus criados; e estes usavam para com ele de liberdades que, fora do tempo, lhes sairiam caras. Pedro, rapaz sempre atencioso e grave no seu trato com os velhos, naquela noite, tendo por vizinha uma séria e madura matrona de aldeia, requebrava-se em galanteios para com ela e afectava rendidos extremos, com grande riso dos circunstantes e de Clara, a qual, pela sua parte, fingia uns ciúmes, igualmente aplaudidos da assembleia.
Uma velha, querendo aproveitar o tempo, tentou regular