Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 41: XLI

Página 306
XLI

Havia na sala grande obscuridade e um silêncio profundo.

Parando, até habituar a vista àquela pouca luz, Margarida chamou, a meia voz, a mulher, a quem ela e sua irmã pagavam para tratar do doente.

Ninguém lhe respondeu.

- Pois teria a crueldade de o deixar assim, neste estado! - pensou Margarida.

E apertava-se-lhe o coração só com a lembrança de tal abandono.

- Maria! - repetiu, elevando a voz.

O mesmo silêncio em resposta.

- Só! coitado!... Só! Que coração o desta gente, meu Deus!

E, com as lágrimas nos olhos, encaminhou-se para a alcova.

Guiava-a o respirar ansioso do enfermo. Mais acostumada já à obscuridade da sala, conseguiu Margarida aproximar-se do leito, em que ele jazia.

Com a solicitude de filha, inclinou-se a observar o estado do pobre velho; e dando às suas palavras aquela inflexão carinhosa, que é o segredo sabido das mulheres ao velarem por um doente estremecido, disse-lhe, unido quase o rosto ao rosto macilento do moribundo:

- Deixaram-no aqui só? Como se sente? Dormia talvez, e eu vim acordá-lo.

E, ao examinar-lhe assim de perto as feições, estremecia de susto.

Naquela palidez, naquele olhar, no movimento dos lábios entreabertos, havia de facto uma significação de assustar.

- Então não se acha melhor? - repetiu Margarida no mesmo tom de voz e limpando-lhe compassiva a fronte, da qual um suor frio corria em abundância.

O velho volveu para ela um olhar que, apesar de amortecido, reflectia ainda bem evidente a mais viva expressão do seu entranhado afecto e, por um movimento de cabeça, respondeu negativamente à pergunta.

- Coitado! - prosseguia Margarida, ajeitando-lhe a roupa do leito. - Padece muito, não padece?

O doente moveu os lábios como para articular algumas palavras, mas tão sumido lhe saía já o som, que não se podia distinguir dum suspiro.

<< Página Anterior

pág. 306 (Capítulo 41)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 306

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316