Depois de tocar, apalpar e enterrar as mãos trémulas no ouro e nas pedrarias, Edmond levantou-se e correu novamente através das cavernas com a trémula exaltação de um homem prestes a enlouquecer. Saltou para um rochedo donde podia observar o mar e não viu nada; estava só, bem só, com as suas riquezas incalculáveis, inauditas, fabulosas, que lhe pertenciam. Mas sonhava ou estava acordado? Vivia um sonho fugaz ou abraçava firmemente uma realidade?
Necessitava de rever o seu ouro e no entanto sentia que não teria forças, naquele momento, para o olhar. Levou por instantes as mãos ao alto da cabeça, como que para impedir a razão de lhe fugir. Depois correu através da ilha, sem seguir, não qualquer caminho, que o não havia na ilha de Monte-Cristo, mas sim uma direcção determinada, afugentando as cabras-monteses e assustando as aves marinhas com os seus gritos e as suas gesticulações. Em seguida deu uma volta regressou, ainda hesitante, até que se precipitou para a primeira gruta, depois para a segunda e por fim se deteve diante daquela mina de ouro e diamantes.
Desta vez caiu de joelhos, comprimiu convulsivamente com as mãos o coração que parecia querer saltar-lhe do peito e murmurou uma prece que só Deus poderia ouvir.
Não tardou a sentir-se mais calmo e portanto mais feliz, pois só naquele momento começava a acreditar na sua felicidade.
Pôs-se então a contar a sua fortuna. Havia mil lingotes de ouro de duas a três libras cada um. Em seguida empilhou vinte e cinco mil escudos de ouro, que valeriam, cada um, oitenta francos da nossa moeda actual, todos com a efígie do Papa Alexandre VI e dos seus predecessores, e verificou que o compartimento estava apenas meio vazio. Finalmente, mediu dez vezes a capacidade das suas mãos em pérolas, pedrarias e diamantes, muitos dos quais montados pelos melhores ourives da época e por isso mesmo possuíam um valor artístico notável, mesmo comparado com o seu valor intrínseco.
Dantès viu o Sol descer e extinguir-se pouco a pouco. Receava ser surpreendido se permanecesse na caverna e por isso saiu, de espingarda em punho. Algumas bolachas e uns goles de vinho, foram o seu jantar. Depois recolocou a pedra, deitou-se-lhe em cima e dormiu apenas algumas horas, tapando com o corpo a entrada da gruta.
Aquela noite foi ao mesmo tempo uma dessas noites deliciosas e terríveis como aquele homem de emoções fulminantes passara já duas ou três na vida.