O Conde de Monte Cristo - Cap. 26: A Estalagem da Ponte do Gard Pág. 206 / 1080

Capítulo XXVI - A Estalagem da Ponte do Gard

Aqueles que como eu percorreram a pé o Meio-Dia da França devem ter notado entre Bellegarde e Beaucaire, aproximadamente a meio caminho da aldeia à cidade, mas mais perto de Beaucairedo que de Bellegarde, uma estalagenzinha donde pende, numa chapa metálica que range à menor aragem, uma grotesca representação da ponte de Gard. Tomando como ponto de referência o curso do Ródano, a estalagenzinha está situada do lado esquerdo da estrada, de costas viradas para o rio. Completa-a o que no Linguado que se chama um quintal, isto é, o lado oposto àquele onde se abre a porta destinada aos viajantes dá para um recinto onde vegetam algumas oliveiras enfezadas e outras tantas figueiras-bravas, de folhagem prateada pela poeira. Nos seus intervalos crescem, e é tudo quanto a legumes, alhos, pimentos e chalotas. Finalmente, num dos cantos, como uma sentinela esquecida, um grande pinheiro manso ergue melancolicamente o tronco flexível, enquanto a copa, aberta em leque, torra sob um sol de trinta graus.

Todas essas árvores, grandes ou pequenas, se inclinam naturalmente na direcção onde passa o mistral, um dos três flagelos da Provença. Os outros dois, como se sabe ou como se não sabe, são a Durance e o Parlamento.

Aqui e ali, na planície circundante, que lembra um grande lago de poeira, vegetam algumas espigas de trigo candial, que os horticultores da região cultivam sem dúvida por curiosidade e cada uma das quais serve de poleiro a uma cigarra que persegue com o seu canto áspero e monótono os viajantes perdidos nesta tebaida.

Havia cerca de sete ou oito anos que a estalagenzinha era explorada por um homem e uma mulher que tinham apenas como pessoal uma criada de quartos chamada Trinette e um moço de estrebaria chamado Pacaud - dupla cooperação que de resto chegava amplamente para satisfazer as necessidades do serviço desde que um canal aberto entre Beaucaire e Aiguemortes fizera suceder vitoriosamente os barcos ao trânsito acelerado e a embarcação de carga e passageiros à diligência.

Como que para tornar ainda mais pungentes as queixas do pobre estalajadeiro que arruinava, o canal passava entre o Ródano, que o alimentava, e a estrada, que exauria, e a cerca de cem passos da estalagem de que acabamos de dar uma breve mas fiel descrição.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069