O Conde de Monte Cristo - Cap. 116: O Perdão Pág. 1064 / 1080

Capítulo CXVI - O PERDÃO

No dia seguinte, Danglars voltou a ter fome, o ar daquela caverna abria o apetite. Naquele dia, porém, o prisioneiro julgou que não teria de fazer qualquer despesa, pois, como um homem económico, escondera metade do frango e um naco de pão num canto da cela.

Mas, mesmo sem comer, teve sede, coisa com que não contara. Lutou contra a sede até sentir a língua ressequida pegar-se-lhe ao céu-da-boca. Então, não podendo resistir mais ao fogo que o devorava, chamou.

A sentinela abriu a porta; era uma cara nova. Pensou que era preferível tratar com um antigo conhecido e chamou Peppino.

- Aqui me tem, Excelência - disse o bandido, apresentando-se com uma rapidez que pareceu de bom augúrio a Danglars. - Que deseja?

- Beber - respondeu o prisioneiro.

- Excelência, como sabe, o vinho é caríssimo nos arredores de Roma... - observou Peppino.

- Então dê-me água - pediu Danglars, procurando aparar a estocada.

- Oh, Excelência, a água ainda é mais rara do que o vinho! Tem estado uma tal seca!...

- Pronto, vamos recomeçar, ao que parece... - disse Danglars para consigo.

E embora sorrindo para ter o ar de gracejar, o desgraçado sentia o suor humedecer-lhe as têmporas.

- Então, meu amigo - disse Danglars, vendo que Peppino permanecia impassível -, só lhe peço um copo de vinho; será capaz de mo recusar? - Já lhe disse, Excelência - respondeu gravemente Peppino -, que não vendíamos a retalho.

- Nesse caso, dê-me uma garrafa.

- De qual?

- Do menos caro.

- São todos do mesmo preço.

- E qual é o preço?

- Vinte e cinco mil francos a garrafa.

- Será melhor dizerem que me querem arrancar a pele e acabarem depressa com isto do que devorarem-me assim, pedaço a pedaço! -protestou Danglars com uma amargura que só Harpagão seria capaz de notar no diapasão da voz humana.

- É possível - admitiu Peppino - que seja esse o projecto do chefe.

- Quem é o chefe?

- Aquele à presença de quem o conduziram anteontem.

- E onde está ele?

- Aqui

- Gostaria de lhe falar.

- É fácil.

Pouco depois, Luigi Vampa estava diante de Danglars.

- Chamou-me? - perguntou ao prisioneiro.

- O senhor é que é o chefe das pessoas que me trouxeram para aqui?

- Sou, sim, Excelência.

- Que resgate deseja de mim? Fale.

- Apenas os cinco milhões que traz consigo.

Danglars sentiu um espasmo horrível apertar-lhe o coração.

- Só tenho isso no mundo, senhor, e é o resto de uma enorme fortuna. Se mo tirar, tira-me a vida.

- Estamos proibidos de derramar o seu sangue, Excelência.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069