O Conde de Monte Cristo - Cap. 47: A parelha pigarça Pág. 464 / 1080

Capítulo XLVII - A parelha pigarça

O barão, seguido do conde, atravessou uma longa fila de salas notáveis pela sua pesada sumptuosidade e pelo seu faustoso mau gosto e chegou ao boudoir da Sr.ª Danglars, uma salinha octogonal forrada de cetim cor-de-rosa e musselina da índia. As cadeiras eram de antiga madeira dourada e igualmente antigo era o tecido dos estofos. As bandeiras das portas representavam cenas bucólicas no género de Boucher. Finalmente, dois bonitos medalhões pintados a pastel, de harmonia com o resto da decoração, tornavam a salinha a única divisão do palácio com algum carácter. é certo que escapara ao plano geral estabelecido entre o Sr. Danglars e o seu arquitecto, uma das mais altas e eminentes celebridades do Império, e que fora a baronesa e Lucien Debray quem interviera unicamente na decoração. Por isso o Sr. Danglars, grande admirador do antigo conforme o entendia o Directório, nutria grande desdém por aquele elegante redutozinho, onde, de resto, só era admitido, em geral, com a condição de justificar a sua presença acompanhando alguém. Não era, portanto, na realidade, Danglars quem apresentava, era, pelo contrário, ele que era apresentado e bem ou mal recebido, consoante a cara do visitante agradava ou desagradava à baronesa.

A Sr.ª Danglars, cuja beleza ainda podia ser citada, apesar dos seus trinta e seis anos, estava ao piano, pequena obra-prima de marcenaria, enquanto Lucien Debray, sentado diante de uma mesa de costura, folheava um álbum.

Antes da chegada do conde, Lucien já tivera ensejo de contar à baronesa muitas coisas a seu respeito. Sabemos como, durante o almoço em casa de Albert, Monte-Cristo impressionara os convivas. Ora, tal impressão, por muito pouco impressionável que ele fosse, ainda não se apagara em Debray e as informações que dera à baronesa acerca do conde tinham-se ressentido disso. A curiosidade da Sr.ª Danglars, excitada pelos antigos pormenores dados por Morcerf e pelos novos fornecidos por Lucien, subira portanto ao cúmulo. Por isso, aquela disposição de piano e álbum não passava de uma dessas astuciazinhas da sociedade, com o auxílio das quais se ocultam maiores precauções. A baronesa recebeu, consequentemente, o Sr. Danglars com um sorriso, o que da sua parte não era coisa habitual. Quanto ao conde, teve em troca do seu cumprimento uma cerimoniosa mas ao mesmo tempo graciosa reverência.

Pela sua parte, Lucien trocou com o conde um cumprimento de semiconhecimento e com Danglars um gesto de intimidade.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069