O Conde de Monte Cristo - Cap. 13: Os Cem Dias Pág. 89 / 1080

Capítulo XIII - Os Cem Dias

O Sr. Noirtier era um bom profeta e as coisas caminharam depressa como ele dissera. Todos conhecem o regresso da ilha de Elba, regresso estranho, miraculoso, que sem exemplo no passado, ficará provavelmente sem imitação no futuro.

Luís XVIII só fracamente tentou deter aquele golpe tão rude; a sua pouca confiança nos homens tirava-lhe a confiança nos acontecimentos. A realeza, ou antes, a monarquia mal acabada de reconstituir por ele, tremeu nos seus alicerces ainda pouco firmes e um único gesto do imperador fez ruir todo o edifício, mistura informe de velhos preconceitos e ideias novas. Villefort não teve portanto do seu rei mais do que um reconhecimento não só inútil de momento, mas até perigoso, e aquela cruz de oficial da Legião de Honra que teve a prudência de não mostrar, embora o Sr. de Blacas, como lhe recomendara o rei, lhe tivesse mandado enviar oportunamente o alvará

Napoleão teria decerto destituído Villefort sem a protecção de Noirtier, tornado todo-poderoso na corte dos Cem Dias, devido aos perigos que correra e aos serviços que prestara. Assim, como lhe prometera, o girondino de 93 e o senador de 1806 protegeu aquele que o protegera na véspera.

Todo o poder de Villefort se limitou portanto, durante esta revivescência do Império, cuja segunda queda, aliás, foi bem fácil de prever, a abafar o segredo que Dantès estivera prestes a divulgar.

Só o procurador régio foi demitido, por suspeita de pouco entusiasmo no seu bonapartismo.

Entretanto, mal o poder imperial foi restabelecido, isto é, assim que o imperador se instalou nas Tulherias que Luís XVIII acabava de deixar, e lançou as suas ordens, númerosas e divergentes, do gabinetezinho onde, juntamente com Villefort, introduzimos os nossos leitores, e em cima de cuja mesa de nogueira encontrou ainda aberta e meio cheia a tabaqueira de Luís XVIII, Marselha, apesar da atitude dos seus magistrados, começou a sentir acenderem-se em si os tachos da guerra civil sempre mal extintos no Meio-Dia. Pouco falhou então para que as represálias não excedessem alguns apupos com que se importunavam os monárquicos que se fechavam em casa e alguns insultos públicos com que se perseguiam os que se atreviam a sair.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069